Desvendando a Profissão – Como é o Dia a Dia de Um Cientista de Dados?

Existe uma mística em torno dos Cientistas de Dados. Frequentemente vistos como magos modernos, capazes de analisar vastos oceanos de dados para prever o futuro dos negócios, a realidade do seu dia a dia é, talvez, ainda mais fascinante. É uma combinação de trabalho que envolve capacidade analítica, engenharia de software robusta e a arte de contar histórias sobre dados. O objetivo final não é apenas encontrar padrões ocultos, mas traduzir essas descobertas em insights acionáveis que impulsionam decisões estratégicas.
Para ilustrar a jornada diária de um Cientista de Dados, vamos acompanhar “Alex”, um Cientista de Dados que trabalha em uma empresa de e-commerce de médio porte. A missão de hoje: mergulhar nos dados para entender os fatores que levam os clientes a abandonar a plataforma, o temido “churn”. Nesta exploração, ferramentas fundamentais como Python e SQL podem ser indispensáveis, mas o verdadeiro diferencial no fluxo de trabalho moderno vem das poderosas plataformas de computação em nuvem, como Amazon SageMaker e Microsoft Fabric. Estas não são meros complementos; são ecossistemas integrados que ajudam a gerenciar a complexidade, a escala e a natureza frequentemente imprevisível do trabalho com dados.
Venha, vamos acompanhar a interessante jornada do Alex, o que vai resumir muito bem um dia típico de um Cientista de Dados!
O Ritual Matinal: Domando Dados na Fronteira Digital (9:00 – 12:00)
9:00 – Café e Sincronização: O dia de Alex começa com a rotina familiar de verificar e-mails e mensagens em busca de solicitações urgentes. Uma rápida olhada nos dashboards revela o status dos modelos e processos de dados já em produção, talvez usando ferramentas de monitoramento como o SageMaker Model Monitor ou funcionalidades equivalentes no Microsoft Fabric para garantir que os modelos implantados anteriormente continuem performando como esperado, um aspecto fundamental da manutenção do fluxo de dados.
9:15 – Reunião Rápida (Stand-up): Alex junta-se à equipe de dados, que inclui Engenheiros de Dados, Analistas de Dados e gestores de produto, para uma breve reunião de alinhamento. Discutem prioridades, potenciais bloqueios e o progresso dos projetos. Esta interação é vital, conectando o trabalho técnico diretamente aos objetivos do negócio (“Business Understanding”). Hoje, um ponto chave é refinar a definição exata de “churn” para esta análise específica, garantindo que todos estejam alinhados sobre o problema a ser resolvido, um passo fundamental na definição do projeto.
9:45 – Aquisição e Inspeção Inicial dos Dados: A caça aos dados começa. Para entender o churn, Alex precisa de dados demográficos dos clientes, histórico de compras, logs de interação no website e registos de tickets de suporte. Esta fase corresponde diretamente à etapa de “Obter os dados” ou “Coleta de Dados” encontrada em muitos fluxos de trabalho de Data Science. Alex precisa identificar fontes de dados valiosas e relevantes.
Hoje, a plataforma de dados escolhida é o Microsoft Fabric. Usando um Fabric Notebook, Alex escreve consultas SQL para extrair dados estruturados (histórico de compras, demografia) diretamente do Fabric Lakehouse, o repositório de dados unificado da plataforma. Logs não estruturados ou semiestruturados podem vir de outras fontes, mas também estão acessíveis através do Fabric, que visa centralizar o acesso aos dados. Se estivesse usando o ecossistema AWS, Alex poderia consultar dados de um Data Warehouse como o Amazon Redshift ou acessar pastas no Amazon S3 através de um SageMaker Studio Notebook.
Após a coleta, segue-se uma inspeção inicial. Alex verifica rapidamente a integridade dos dados: existem valores obviamente impossíveis? Os tipos de dados estão corretos (números como números, datas como datas)? Os valores extremos fazem sentido no contexto? Esta é uma verificação de sanidade essencial antes do mergulho profundo na limpeza.
10:30 – A Grande Limpeza: Domando a Arte da Análise dos Dados: Alex entra agora naquela que é frequentemente a fase mais demorada e desafiadora: a limpeza e preparação dos dados. Conhecida como “Data Wrangling” ou “Pré-processamento” , esta etapa é universalmente reconhecida como essencial. Dados brutos raramente são perfeitos; são frequentemente “ruidosos” e quase nunca “limpos”.
O trabalho envolve identificar e tratar valores ausentes (missing values), corrigir erros de entrada, remover registos duplicados, padronizar formatos (como datas ou categorias) e integrar dados de diferentes fontes, garantindo consistência. O objetivo é transformar a matéria-prima caótica num conjunto de dados estruturado e confiável, pronto para análise.
Para esta tarefa, Alex utiliza intensivamente a linguagem Python e a biblioteca Pandas , operando dentro do Fabric Notebook. A capacidade do Fabric de alavancar clusters Spark é uma vantagem ao lidar com volumes maiores de dados. Ferramentas mais visuais como o SageMaker Data Wrangler ou os Dataflows do Fabric também poderiam ser usadas para criar lógicas de limpeza reutilizáveis ou para exploração visual da preparação.
É aqui que a natureza imprevisível do trabalho com dados se manifesta claramente. Alex descobre, por exemplo, que os registos de interação do website têm formatos de data inconsistentes entre diferentes períodos, exigindo um esforço considerável para padronização. Pior ainda, alguns dados importantes sobre o uso de uma funcionalidade específica parecem estar em falta para um segmento de clientes. Este tipo de desafio consome tempo e destaca por que a fase de limpeza impacta tão diretamente os cronogramas do projeto. Pode até forçar Alex a revisitar brevemente a etapa de aquisição de dados, verificando se fontes alternativas ou dados complementares estão disponíveis, um exemplo prático da natureza iterativa do fluxo de trabalho.
Exploração ao Meio-dia: Mapeando Territórios Invisíveis (12:00 – 15:00)
12:00 – Almoço e Recarga Mental: Uma pausa necessária para descansar os olhos do monitor e processar as descobertas da manhã.
13:00 – Análise Exploratória de Dados (EDA) – Em Busca de Padrões: Com os dados agora mais limpos e organizados, Alex inicia a fase de exploração. O objetivo é ganhar uma intuição sobre os dados, ir além da superfície.
Utilizando técnicas de visualização e análise estatística, Alex examina a distribuição das variáveis, procura tendências, identifica correlações entre diferentes fatores e detecta possíveis anomalias ou outliers que possam ter escapado à limpeza inicial. Esta fase é fundamental para formular hipóteses sobre as causas do churn.
Dentro do Fabric Notebook, Alex usa bibliotecas Python populares como Matplotlib e Seaborn para criar gráficos e visualizações. Alex não lembra a sintaxe exata para criar um gráfico de barras com Seaborn, nada que uma visita rápida ao ChatGPT não resolva. Uma vantagem da integração do Fabric é a facilidade com que Alex pode enviar dados sumarizados para o Power BI, criando dashboards interativos rapidamente. Isso permite partilhar descobertas preliminares com colegas ou stakeholders de forma visualmente impactante. No ambiente AWS, o trabalho seria feito no SageMaker Studio Notebook, com a possibilidade de conectar os resultados ao Amazon QuickSight para visualização.
Durante a EDA, Alex faz uma descoberta interessante: Parece haver uma correlação negativa entre o uso regular de uma funcionalidade específica do website (digamos, uma ferramenta de planeamento) e a probabilidade de churn. Este insight é promissor! No entanto, para usá-lo num modelo preditivo, Alex percebe que precisa de uma variável (feature) que capture explicitamente este padrão de uso. Isso desencadeia um rápido retorno à fase de preparação de dados. Alex volta ao código de limpeza/transformação para criar essa nova feature, talvez calculando a frequência de uso da ferramenta nos últimos 3 meses para cada cliente. Este ciclo (explorar, descobrir, voltar a preparar) exemplifica perfeitamente a natureza não linear e iterativa do fluxo de trabalho de Ciência de Dados. Não é uma linha reta, mas um processo dinâmico de refinar a compreensão e os dados em conjunto.
14:30 – Engenharia de Features e Preparação para Modelagem: Com base nos insights da EDA e com a nova feature criada, Alex prepara o dataset final para a modelagem. Isso envolve tarefas como a engenharia de features (criar variáveis informativas a partir das existentes ), escalar variáveis numéricas (para que tenham intervalos semelhantes) e codificar variáveis categóricas (transformando texto em números que os algoritmos possam entender). Estas são etapas essenciais que se situam entre a preparação de dados e a modelagem propriamente dita. A ferramenta principal continua a ser Python, agora com forte uso da biblioteca Scikit-learn , dentro do ambiente de notebook do Fabric ou SageMaker.
Aceleração da Tarde: Construir, Ajustar e Comunicar (15:00 – 17:30)
15:00 – Início do Treinamento de Modelos: Chegou a hora de construir modelos preditivos. Alex decide começar com alguns modelos de base, como Regressão Logística e Random Forest, para tentar prever quais clientes têm maior probabilidade de churn. Alex sabe separar bem as coisas e compreende que o uso de IA Generativa não faz sentido no contexto deste problema de negócio.
Aqui, o poder da nuvem torna-se evidente. Em vez de executar o treinamento diretamente no notebook, o que pode ser lento e consumir muitos recursos para dados ou modelos maiores, Alex aproveita as capacidades das plataformas cloud:
Usando Amazon SageMaker: Alex prepara um script de treinamento, define onde os dados estão (provavelmente no S3) e lança um SageMaker Managed Training Job. O SageMaker automaticamente provisiona a infraestrutura computacional necessária (instâncias otimizadas para Machine Learning), executa o script, monitora o processo e desliga os recursos no final. Alex pode acompanhar o progresso através do console AWS ou via SDK, enquanto o seu próprio computador e notebook ficam livres para outras tarefas.
Usando Microsoft Fabric: Alex utiliza a integração nativa com MLflow para criar um Fabric Experiment. Ao executar o script de treinamento (que pode usar clusters Spark geridos pelo Fabric para processamento distribuído, se necessário), parâmetros, versões de código, métricas de desempenho e até os próprios modelos são automaticamente registados e organizados pelo MLflow. Isso facilita a comparação e a reprodutibilidade.
Esta etapa ilustra concretamente como as plataformas de nuvem não são apenas locais para armazenar dados, mas ambientes que ativamente aceleram e simplificam tarefas centrais da Ciência de Dados, como o treinamento de modelos complexos.
15:30 – Check-in com Stakeholders e Storytelling: Enquanto os modelos estão a treinar na nuvem, Alex tem uma reunião agendada com o Gestor de Produto responsável pela retenção de clientes. Esta é uma atividade essencial de comunicação e interpretação. Alex ainda não tem os resultados finais dos modelos preditivos, mas pode partilhar as descobertas mais importantes da EDA, especialmente a correlação encontrada entre o uso da ferramenta de planeamento e a menor taxa de churn. Usando visualizações claras (talvez do Power BI ou gráficos gerados com Matplotlib/Seaborn), Alex explica o que os dados sugerem até agora.
Esta interação demonstra que a comunicação em Ciência de Dados não é apenas um relatório final entregue no fim do projeto. É um diálogo contínuo, onde o Cientista de Dados precisa traduzir achados técnicos numa linguagem que faça sentido para o negócio, contando uma história com os dados disponíveis em cada etapa. Requer fortes habilidades de comunicação, além da proficiência técnica. Alex estudou na Data Science Academy e praticou isso bastante durante os cursos.
16:15 – Avaliação e Iteração de Modelos: Os primeiros trabalhos de treinamento terminaram. Alex volta ao SageMaker Experiments ou ao Fabric MLflow para examinar os resultados. Métricas como precisão, recall, AUC (Area Under the Curve) são analisadas para avaliar o quão bem os modelos de base conseguem prever o churn.
Os resultados iniciais podem não ser espetaculares. Talvez a Regressão Logística seja muito simples ou o Random Forest esteja sofrendo de overfitting. Com base nesta avaliação, Alex decide os próximos passos. Poderia ser necessário ajustar os hiperparâmetros dos modelos (parâmetros que não são aprendidos a partir dos dados, mas definidos antes do treinamento ) – talvez lançando um SageMaker Hyperparameter Tuning Job que explora automaticamente diferentes combinações. Ou, talvez, a avaliação sugira que são necessárias features adicionais, levando Alex de volta à fase de engenharia de features ou mesmo à EDA. Este ciclo de treinar, avaliar e refinar (ou voltar atrás) é o coração do processo de modelagem preditiva, facilitado pelas ferramentas de experimentação e computação escalável da nuvem.
17:00 – Documentação e Higiene do Código: Na última parte do dia, Alex dedica tempo a organizar o trabalho realizado. Isso envolve limpar o código nos notebooks, adicionar comentários explicativos, documentar os passos dados, as decisões tomadas e as descobertas preliminares. Garantir que o código esteja sob controlo de versão (usando Git, que se integra com SageMaker Studio e ambientes de desenvolvimento no Fabric) é também uma prática essencial para a colaboração e reprodutibilidade.
Finalizando o Dia: A Fronteira Infinita (17:30)
Revisão e Próximos Passos: Alex faz uma rápida revisão do progresso do dia. O trabalho de limpeza está avançado, a EDA revelou pistas interessantes e os primeiros modelos estão prontos. Alex anota as tarefas prioritárias para amanhã: provavelmente mais iteração nos modelos, análise mais profunda dos resultados (quais features são mais importantes?) e começar a preparar um resumo mais formal das descobertas para partilhar com a equipe.
Variações na Rotina: É importante notar que este “dia típico” pode variar significativamente. Numa startup, Alex poderia ter um papel mais abrangente, desde a engenharia de dados até à implantação. Numa grande empresa farmacêutica, o foco poderia estar em dados clínicos com regulamentações rigorosas. O setor (finanças, saúde, retalho, tecnologia ), o tamanho da empresa e a maturidade da equipe de dados influenciam as ferramentas, os processos e as prioridades diárias. E isso é o que garante alta empregabilidade a Cientistas de Dados, pois eles podem trabalhar em empresas de qualquer setor.
Impacto da Nuvem em Resumo: As plataformas como Amazon SageMaker e Microsoft Fabric desempenharam um papel central no dia de Alex. Elas forneceram ambientes de desenvolvimento integrados (notebooks, acesso a dados), capacidade computacional escalável sob demanda para tarefas intensivas como preparação de dados e treinamento de modelos, ferramentas para rastreamento e gestão de experiências (MLflow, SageMaker Experiments) e capacidades de monitoramento. Em última análise, permitem que os Cientistas de Dados iterem mais rapidamente, experimentem mais e se concentrem mais na ciência e menos na gestão de infraestrutura.
Conclusão: A Curva de Aprendizagem Contínua
O dia de Alex demonstra a natureza dinâmica e multifacetada da Ciência de Dados. É uma mistura constante de codificação focada, resolução de problemas analíticos, colaboração com diversas equipas e comunicação eficaz de resultados complexos. Longe de ser uma sequência linear de passos, é um processo iterativo, onde descobertas numa fase frequentemente exigem um retorno a fases anteriores.
A principal conclusão é que ser um Cientista de Dados exige uma mentalidade de aprendizagem contínua. O campo está em constante evolução, com novas ferramentas (especialmente nas plataformas de nuvem em rápida expansão ), técnicas algorítmicas e a necessidade sempre presente de aprofundar a compreensão do contexto de negócio para formular as perguntas certas e interpretar os resultados de forma significativa. Para aqueles que aspiram a esta carreira, é um caminho desafiador, mas repleto de estímulo intelectual e da oportunidade de gerar um impacto real através do poder dos dados. Isso ao mesmo tempo que oferece alta empregabilidade e salários acima da média.
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Equipe DSA